QUER ABRIR A PORTA, DOUTOR?
Todos os domingos, à mesma hora, 11h15 da manhã, aquele carro estacionava ao lado do meio-fio em frente àquela pequena igreja batista daquela cidade, e dava três suaves toques na buzina.
De lá saía uma mulher com uma criança envolta pelo seu braço esquerdo, segurando a mão da outra criança. Sobre seu ombro, uma fralda. Sob o braço, uma Bíblia com uma revistinha e, do outro lado, uma sacola com pertences das crianças. Ela chegava ao lado daquele veículo, soltava a mão da criança e girava a maçaneta. Às vezes algo caía ao chão, ela se curvava e apanhava. Movia o banco dianteiro para frente, colocava atrás seus objetos, sentava lá o garoto maior, entrava, acomodava-se, puxava o banco dianteiro e fechava a porta.
Todos os domingos a mesma rotina.
Um dia, aquela irmã morre. Seu corpo estava sendo velado no templo daquela igrejinha. Termina o culto. Pessoas se despedem dela. Fecham o caixão e começam a conduzi-lo pelo corredor do templo. Quando o condutor do carro-fúnebre, que aguardava lá fora ao lado do veículo vê que o caixão está se aproximando, vai abrir a porta traseira do veículo, vê aquele homem parado ao lado e lhe pergunta:
– Quer abrir a porta, doutor?
Era o esposo daquela irmã. Um respeitado juiz daquele condado. Suas sentenças eram firmes e inexoráveis. Num rompante ante a pergunta do rapaz, ele ergue o braço para abrir a porta. Quando sua mão toca na maçaneta, seu sangue se petrifica em suas veias e sua mão não se move. Então ele se apercebe: “Pela primeira vez em minha vida; pela única vez em minha vida; pela última vez em minha vida, eu abro uma porta para minha esposa passar. Só que agora ela não pode ver e sentir o calor deste gesto, que tanto lhe dulcificaria.”
Alguém disse certa vez: “Tragam-me flores, agora que eu as posso ver e sentir o perfume daqueles que as trazem a mim.”
(Do livro “Com Firmeza e Ternura”, de Joyce Landorf – Editora Vida
Enviada pelo colaborador: Pr Adriano Oliveira.
Quer abrir a porta doutor?