A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA
A natureza missionária da igreja
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE A IGREJA E SUA NATUREZA MISSIONÁRIA
LUIZ AUGUSTO CORRÊA BUENO
Garanhuns, PE, 2000
I. Introdução
A grande dificuldade que a igreja do século vinte enfrenta é, uma crise de visão. Esta crise é devido ao fato da mesma não compreender a sua finalidade como Corpo de Cristo no mundo. A natureza missionária da igreja
O propósito deste trabalho é compreender e redescobrir, por meio de uma teologia bíblica de missão, a natureza missionária da igreja, para que a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, de fato possa encontrar a sua finalidade como comunidade missionária. A natureza missionária da igreja
Contudo, há necessidade de se fazer uma análise de como a igreja de hoje se encontra. Em seu livro “Uma Igreja apaixonada por missões”, Antônio Carlos Nasser propõe uma análise dos tipos de igrejas no processo missionário nos últimos tempos. Na verdade, são atitudes que representam e qualificam as igrejas locais quanto a visão e atuação conquanto Corpo de Cristo. A natureza missionária da igreja
Um dos tipos mais freqüentes encontrado é a igreja “fantasia”: Nasser introduz este ponto dizendo que elas “querem o culto que alegra, a música que balança, a pregação que faz rir, o lugar da fantasia! A fantasia faz rir, sonhar, viver num mundo em que sempre se vence”. Talvez estas sejam retratadas como adeptas da Teologia da Prosperidade, um dos maiores males que tem disseminado uma visão incoerente e improcedente. Onde estão o prazer e a fantasia! E o que falar das tensões, lutas, dificuldades e temores? O que falar das tribulações por que passa a igreja neste final de século. Não podemos nos esquecer as palavras de Jesus em Mateus 10.16: “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos…” ou em 10.28: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma”. Há hoje em nossas igrejas locais uma pregação demasiadamente romântica quanto a vida cristã e seu compromisso com o mundo sem Cristo. A natureza missionária da igreja
Outro tipo evidenciado em seu livro é a igreja megalomaníaca. Enquanto encontra-se igrejas que vivem um cristianismo fantasioso, encontramos igrejas que buscam “pompas e circunstâncias”. Nunca o espírito megalomaníaco atingiu tanto as igrejas como nos dias de hoje. Este espírito corrente em nossos dias tem sido mais importante do que as pequenas e singelas coisas a serem trabalhadas. Projetos monumentais tem sido o sonho de muitos líderes religiosos. Não fala-se mais em grandes igrejas, mas sim em “mega-igrejas”. A missão torna-se um fim em si mesmo e na grande maioria, projetos missionários a longo prazo são descartados, devido ao imediatismo e aos mega-projetos personalizados em seus “mega-líderes”. O atender as necessidades do mundo em termos espirituais e sociais são muito mais importantes do que mega-ministérios. No orçamento destas igrejas missões nem entra. Grandes templos, grandes perspectivas, grandes poderios eclesiásticos nunca representarão um compromisso com o Reino de Deus. A preocupação exagerada com o local pode nos fazer esquecer a pregação a todas as nações. A natureza missionária da igreja
A igreja social é um terceiro tipo. Ao mesmo momento que se detecta as mega-igrejas, Nasser enfatiza um outro lado extremo de nossas igrejas onde encontram-se também as que estão reduzindo a ação da igreja ao trabalho puramente social. Na sua grande maioria estas igrejas procedem dos movimentos de secularização e humanização que se originaram neste século. Embora estas comunidades transformem o povo num grupo de trabalho em prol da vida, o fazem apenas no aspecto que se refere a vida terrena, sem nenhum resultado espiritual missionário. Outro problema gerado por estas igrejas é a sociabilidade desconectada de um profundo senso de comunhão. Sem este aspecto, estas igrejas transformam a vida cristã em uma sociedade filantrópica ou clubes que congregam pessoas sem uma integração no discipulado dinâmico do Senhor Jesus.
Além destas encontra-se também a igreja tecnocrata. O autor assevera que as referidas igrejas são geradas pelo pragmatismo destas duas últimas décadas. Supervalorizam os métodos em detrimento do conteúdo. Estas igrejas estão preocupadas com o que é funcional. Igrejas que deixaram de exercer sua finalidade através de sua natureza missionária para se tornarem igrejas-evento. O programa é o ponto alto da vida da igreja. Além disso, suas técnicas vão desde as folclóricas “correntes” até técnicas como “seja feliz em 10 passos” ou a “corrente dos 7 dias”. Pacotes que trazem a Salvação. Pacotes que resolvem tudo.
Encontra-se também igrejas desafiadas, mas independentes: Estas, como afirma Nasser, não necessitam de parcerias para fazer a obra evangélica, elas encontraram-se em um caminho quase que “pioneiro” ou porque não dizer “livre”. Se isolaram e resolveram trabalhar sozinhas, sem denominação, sem laços eclesiásticos, sem qualquer ligação estrutural eclesiástica. O que transparece é o espírito de um messianismo eclesiástico, daquele pensamento egocêntrico e jactancioso: “eleita” por Deus para estar na vanguarda da missão.
Este retrato, que Nasser expõe, é um complexo de características que se evidencia dentro e fora das igrejas evangélicas brasileiras neste final de século no Brasil e no mundo. Esta situação é tão perigosa para a igreja atual, que o grande problema é a ausência de uma concepção clara, aberta e bíblica acerca da verdadeira natureza missionária da igreja. O grande desafio para a igreja de Cristo neste final de século é a redescoberta de sua natureza missionária. A igreja mais do que nunca deve voltar seus olhos para dentro de si e através da Palavra encontrar-se com a sua verdadeira essência, isto é, o ser uma igreja voltada para o mundo.
II. A Eclesiologia e sua relação com a Missão da igreja
Um dos livros mais desafiadores para o estudo da eclesiologia missionária atualmente, em português é “Povo missionário, povo de Deus”, de Charles van Engen. Nele, o autor introduz o primeiro capítulo, relacionando a concepção de missão com a necessidade dos seus líderes atuais se convencerem de uma “visão da igreja em seu âmbito local”. Para que igrejas redescubram sua natureza missionária é necessário que tenham uma visão correta acerca de seu papel como comunidade. Van Engen, defende o ponto de vista de que há uma íntima relação da igreja com o reino vindouro. Esta visão só é possível se olharmos como Jesus comparou o Reino de Deus em Mt 13.31-33: “O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo, o qual é na verdade a menor de todas as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves de céu vem aninhar-se nos seus ramos”. Assim é a igreja. O grão de mostarda não se transforma em árvore até que seja plantado. Não importa o que ela é agora, e sim o que ela virá a ser! Diz o autor: “A maturidade de amanhã começa com a imaturidade de hoje”.
É importante notar que a transição da imaturidade para a maturidade, passa necessariamente pelo caminho da aprendizagem, do treinamento, do aperfeiçoamento, para o desempenho de um serviço. Efésios 4.12 é muito claro quando afirma que os dons e ministérios no Corpo de Cristo são “para o aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do seu serviço, para a edificação do Corpo de Cristo”. Isto significa que não há maturidade sem este tripé: aperfeiçoamento, desempenho e edificação.
Para que a igreja local se compreenda como uma comunidade missionária, é necessário que ela compreenda a relação entre Missão e Igreja.
A definição de Igreja, revela uma série de conceitos e características. O original grego ekklesia, refere-se a uma assembléia dos cidadãos de uma localidade, e além disso, no Novo Testamento a palavra igreja possui dois sentidos. Um é universal significando todos os crentes de todas as épocas e de todos os lugares. O outro significa um grupo de crentes em dada localidade geográfica. O termo igreja é melhor conceituado por Van Engen que diz: “A Igreja é a comunidade una, santa, universal, e apostólica dos discípulos de Jesus Cristo, reunidos de todas as famílias da terra, em torno da Palavra, do Sacramento, e do Testemunho comum.” Muito mais do que uma aglomeração de pessoas, a igreja é uma comunidade, formada por um grupo de pessoas que nutre um relacionamento pessoal, onde há por assim dizer, “intimidade” entre seus membros. Mas também, além disso, do ponto de vista divino, ela revela atributos distintos como unidade, santidade, universalidade e apostolicidade.
Van Engen ainda afirma: “A igreja só pode achar a sua mais plena expressão para com o mundo se viver a sua natureza como povo missionário”, isto significa que não podemos separar o fato de ser da igreja e a sua natureza missionária. Então não há como entendermos uma igreja que possua as marcas da igreja de Jesus Cristo sem seu propósito maior que é sua missão. Embora sendo una, santa, universal, e apostólica, embora reunida de todas as famílias da terra, em torno da Palavra e do sacramento a igreja também manifesta naturalmente o seu testemunho ao mundo. Não que este fim seja puramente um tipo de “fruto”, mas além de ser fruto de fato, este existe como parte integral de sua essência.
Este testemunho, é a própria missão da igreja. Stephen Neill, afirma que Missão é “a transposição intencional de barreiras, partindo-se da Igreja em direção a não-igreja, em gestos e palavras, por amor à proclamação do evangelho”. Por causa de sua apostolicidade, a igreja manifesta a sua missão transpondo intencionalmente barreiras. Não pode-se negar que a promessa à Abraão, tem seu cumprimento pleno na vida natural da igreja. Quando a igreja missiona, ela o faz naturalmente voltando seus olhos para o mundo, transpondo todas as barreiras sejam elas sociais, culturais, linguisticas, políticas, geográficas, étnicas e familiares. Mas Neill ainda assevera que esta transposição é intencional. Isto significa que a evidência da missão da igreja não é simplesmente por acaso, mas a congregação missionária quando desfruta de sua natureza plena, entende sua identidade e ao fazer isto, cria processos e meios para interagir conscientemente em seu contexto.
Além disso, Neill define a missão dando direcionamento à mesma. A sua afirmação de partindo-se da Igreja para a não-igreja, por meio de gestos e palavras. Esta direção evoca o princípio de João 20.21: “Assim como o pai me enviou, eu também vos envio”. A missão denota o princípio da encarnação.
A partir disso, vemos a necessidade de levantar alguns questionamentos. A grande maioria de cristãos entendem “igreja” e “missão” como sendo dois tipos diferentes de sociedade. Uma é tida como a sociedade dedicada a adoração e ao cuidado espiritual e nutricional dos membros. A outra à propagação do evangelho, repassando seus convertidos para a custódia segura da “igreja”.
A visão normal dos fatos é distinguir a Igreja como uma comunidade institucionalizada, já instalada em dependências seguras a qual tende a ser dirigida por líderes sustentados por ela. Na sua grande maioria, é uma sociedade que se auto preserva e possui uma política bem definida. Enquanto isto, a Missão é vista como uma comunidade mais individualizada, com poucas ou condições menores, liderada por voluntários, e enquanto a igreja está mais refugiada do mundo, a Missão está situada no lugar de risco, em meio ao mundo.
Para que a Igreja redescubra a sua natureza missionária é necessário que a mesma venha a se convencer de que se há algo inerente a ela, ou que esteja latente dentro de si mesma, esta é a sua Missão. Johannes Blauw afirma: “Quem quer que tenha visto a Cristo não pode deixar de ver o mundo, e quem quer que veja o mundo também vê o mapa do mundo”. Isto é, não há como participarmos da comunhão, da bênção de Cristo sem um desembocar em serviço ao mundo, através de um conhecimento detalhado e pormenorizado acerca da necessidade deste.
Não podemos negar, pois “a missão, diz Thomas Torrence, pertence à natureza da Igreja”. Van Engen cita Newbigin : “A Igreja que cessou de ser missão perdeu o caráter essencial de Igreja. Assim, devemos afirmar que a missão que não seja ao mesmo tempo Igreja, realmente não é a verdadeira manifestação do apostolado divino. A missão não-eclesiástica é tão monstruosa quanto a igreja não-missionária”. Se a comunidade dos santos não compreender esta aglutinação do caráter missionário e eclesiológico, na verdade ela perderá a sua natureza, assim como o sal pode perder a sua salinidade.
Alguns fatores concorrem para que a igreja perca de vista a sua natureza missionária. O primeiro fator que leva a igreja a perder sua natureza missionária, é o falso ensino a respeito da igreja e sua missão. O final do século XX vê um número excessivo de igrejas evangélicas especialmente brasileiras fazendo e falando de missões, mas nem sempre encontra-se a missão como que brotando naturalmente do seio da igreja local. Há uma tendência de se departamentalizar a missão, colocando-a como um “departamento” , “sociedade” ou até um novo tipo de “ministério”. A tendência é se criar e se estabelecer a missão como um dos eventos de uma igreja local como existem a diaconia, o louvor, e outros tantos “ministérios”. Outro fator para a falta de discernimento da natureza missionária da igreja é o avanço do marketing eclesiástico. Este tipo de “marketing” é em tese, resultado dos vários modelos experimentados pelas igrejas no que se refere ao Movimento de Crescimento de Igreja que começou com Donald McGravan, e tomou vulto com Peter Wagner. Os teólogos e pastores da América do Norte e do Sul absorveram seus princípios e partindo dos chamados “grupos homogêneos”, tem transformado as suas igrejas em pequenos “Jardins do Éden” aqui na terra. Seus princípios bíblicos são questionáveis, seus conceitos adquiridos e fundamentados na Filosofia de Marketing, onde estão em voga palavras como “produto”, “consumo”, “público alvo” e outros. O que é de impressionar é que, embora haja uma exaustiva evangelização marketeira, a maioria destas igrejas não estão nem um pouco preocupadas com outro tipo de missão, por exemplo, a transcultural estrangeira. Para elas basta um grupo específico de pessoas para que a igreja local se veja cumprindo a Grande Comissão. Esta situação torna a congregação uma “cápsula”, onde poucos podem entrar e fazer parte dela. A natureza missionária está abafada ou quase nem existe, neste caso.
Para que se possa construir comunidades missionárias no mundo, é necessário uma avaliação sobre a relação entre Igreja e Missão. Emil Brunner assevera com muita propriedade que “A igreja existe por causa da missão, assim como o fogo existe enquanto queima”. Não há como negar que o fogo existe enquanto houver chama. A missão só se torna realidade por causa da existência da igreja.
O fato é que nem sempre a igreja expressa a Missio Dei de forma plena. Esta situação é devido à sua visão acerca da Missio Eclesiarum. Nem sempre a Missio Eclesiarum corresponde à Missio Dei. O Conselho Missionário Internacional reunido na Alemanha em 1952, afirmou categoricamente: “Não há participação em Cristo sem a participação em sua missão ao mundo. Aquilo por que a Igreja recebe a sua existência, é aquilo por que também recebe a sua missão mundial”. E Johannes Blauw asseverou: “Não há outra igreja a não ser a igreja enviada ao mundo, e não há outra missão, a não ser a da Igreja de Cristo”. Mas como avaliar e conjugar a natureza da igreja com sua missão, uma vez que durante a história da igreja, ela mesma teve grandes dificuldades para entender a sua essência.
III. A Igreja e a sua relação com sua essência missionária na história
A igreja dos primeiros séculos comprometida com o testemunho pessoal, sempre deixou claro que a mesma fora chamada para proclamar o kerygma ao mundo. Houve então, necessidade desta se relacionar com sua natureza afirmando e referendando o uso de “figuras” ou “imagens” sobre a igreja. A finalidade destas figuras era descrever e estimular a relação entre a congregação e a natureza da igreja. O povo de Deus se via como corpo, comunidade, servos, família, edifício ou noiva do cordeiro.
Já na época de Agostinho a igreja experimentou suas críticas e questionamentos. As questões essenciais acerca da igreja são tratadas em seu livro “A Cidade de Deus”. Nele, Agostinho expõe além de outras coisas, o compromisso da igreja com o mundo. Analisando a relação Estado-Igreja, Agostinho afirmava que a “igreja visível e hierarquicamente organizada é a Cidade de Deus a qual deve, cada vez mais, governar o mundo” . Seu princípio era, neste caso estimular a igreja a que fosse a governanta de Deus sobre a face da terra. Mas esta ideia acabou por ser menosprezada quando no Concílio de Trento a igreja identificou-se com a expressão fiel do reino de Deus na terra em que os seus atributos deveriam ser identificados com a “Santa Sé”.
Mas foi na época da Reforma Protestante que a Igreja se preocupou com uma melhor definição. A partir dos reformadores que se cuidou de corrigir a visão deturpada da Igreja Romana através das suas “marcas”.
A Confissão Belga expõe claramente a respeito das marcas da igreja as quais identifica a verdadeira igreja. Se nela a pura doutrina do evangelho for pregada, se ela conservar a ministração pura dos sacramentos e também se nela a disciplina da igreja for exercitada.
Os atributos da igreja então foram evidenciados e enaltecidos. Se resgatava a visão de uma igreja como discípulos de Cristo, através de sua unidade, santidade e catolicidade. Para tanto, uma vez que não podemos desvincular os atributos da igreja de sua natureza missionária, compreendemos suas qualidades conjugadas à missão do povo de Deus. A natureza missionária da igreja
a) Unidade: A missão da igreja é missão em unidade.
A visão do Corpo de Cristo está inteiramente relacionada com a missão da igreja. Isto por que, quando se trata deste primeiro atributo, se evidencia a igreja como organismo funcional que ao esforçar-se pela sua unidade espiritual, ela se projeta no mundo como corpo de Cristo, jamais dividido ou fragmentado. É bom lembrar que Paulo afirma a unidade tanto em seu sentido ideal como no sentido real. Em Efésios 4. 1-7, vê-se a afirmação de que, embora haja um só Senhor, uma só fé, um só batismo, há também a necessidade do povo de Deus esforçar-se por manter a unidade do Espírito no vínculo da paz. A missão da igreja somente terá resultados práticos e duradouros, de maneira que ela glorificará a Deus, se esta unidade como atributo inerente da igreja for preservada.
Esta visão de unidade, está expresso nas palavras de Jesus ao dizer em João 13.34,35: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns para com os outros”. O fato de se nutrir o amor ágape no seio da igreja, levará certamente a comunidade a refletir sua unidade ao mundo. Logo, este estilo de vida gerará missão ao mundo. Paulo ao afirmar a necessidade de unanimidade aos Filipenses, ele também liga o amor fraternal ao propósito pelo qual a igreja vive, que é a sua missão. Van Engen, expõe com propriedade este conceito quando fala sobre a finalidade da igreja local em seu livro “Povo Missionário, Povo de Deus”. É o corpo de Cristo que desempenhou a Grande Comissão no início da igreja (Mt 28.19-20). É o corpo que cresce (Ef 4.13,15,16) e porque cresce, através de seus dons ao mundo, o faz de maneira que causa impacto na sociedade manifestando a sua unidade. A natureza missionária da igreja
b) Santidade: A missão da igreja é missão em santidade.
A santidade é algo que recebemos pela fé, como Corpo de Cristo. Em Efésios 1.1-14, podemos ver ordenadas aqui as bênçãos que recebemos da Trindade. O apóstolo Paulo, com muita clareza afirma que os crentes são igualmente santificados pela presença e ação da trindade.
Uma vez escolhidos e predestinados pelo Pai, os crentes são santificados e adotados em Cristo Jesus. A ação da trindade também é vista como executada pelo Filho. Nele os crentes são redimidos, perdoados, unidos com Cristo, e são reconhecidos como co-herdeiros com Ele. E é pelo selo do Espírito Santo que após a manifestação de fé, a Trindade Santa garante toda a extensão e profundidade do plano de Deus. Os crentes então são selados e recebem o batismo do Espírito Santo. Deste modo, o Corpo de Cristo é encontrado em Santidade em seu aspecto invisível. Enquanto Igreja de Cristo, a comunidade dos discípulos é Santa, uma vez que recebe a presença de Cristo em seu seio, pela fé. Contudo, o Corpo ainda é pecador, convive com a realidade do mundo e muitas vezes deixa-se ser envolvido por ele. Ao analisar Efésios 4.17 a 5.21, o apóstolo identifica a igreja com a realidade exposta do mundo e reafirma, conquanto no mundo, que as práticas humanas provenientes do velho homem devem ser modificadas.
Isto significa dizer que o Corpo de Cristo deve manifestar e exercer a santidade nas situações cotidianas da vida igreja. Isto, na verdade, expressará não somente uma realidade escatológica, uma vez buscado pela igreja, mas refletirá a presença de Cristo entre os seus discípulos. Mesmo reconhecida como “nação santa”, como expressa I Pedro 2.9, esta mesma comunidade deve, para que a proclamação e missão seja eficiente, ser santa de maneira prática. É nesta santidade que o marido não domina a esposa, mas a ama. É nesta santidade, que os filhos não se rebelam contra seus pais, mas retribuem o amor deles através da obediência. A santidade da igreja também é expressada não apenas na vida prática dos relacionamentos, mas também nos valores que a mesma expressa para com o mundo.
Portanto, a missão sempre dependerá do testemunho da igreja, pela expressão de vida em santidade da mesma. É por meio do resplandecer da luz, que o mundo verá as boas obras e glorificará ao Pai que está nos céus. (Mt 5.16)
c. Catolicidade: A missão da igreja é missão para todos.
O fato de ser católica é o terceiro passo para a missão da igreja. A igreja que é una e santa, também é universal por ser instrumento de Deus para realizar no mundo o que a trindade planejou, executou e aplicou. Por isto, Paulo em Efésios chama a igreja de corpo e a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. A igreja realiza a sua missão como instrumento mundial e universal.
A priori, “não podemos conhecer a Igreja, senão conhecermos o Cabeça dela pois a igreja encontra vida, natureza e missão na pessoa de Jesus Cristo”, expressa Van Engen.
A igreja é vista como Corpo de Cristo (swma tou cristou), porque de fato se origina em Jesus e existe como corpo dele. Afora Jesus, afirma Karl Barth, não há nenhum outro princípio para constituir, organizar e garantir a existência e manutenção desse corpo.
Aceitamos a universalidade da Igreja porque a reconhecemos como uma manifestação da intenção universal de Deus em Cristo. Ao escolher um povo, Deus tinha por finalidade alcançar o mundo todo.
Por ser para todas as pessoas, talvez a igreja nunca deixe de convocar, de atrair todos a Cristo. O lugar da igreja é nas ruas e nas estradas como portadora de um convite especial. É chamada de embaixadora, aquela que leva a mensagem de reconciliação ao mundo. Devido a abrangência do sacrifício de Cristo, assim será a abrangência da missão da igreja, isto é ao mundo todo (II Co 5.19-21).
A visão da igreja deve ser mundial e não apenas local, regional e nacional. Deve ser uma igreja para todos os povos e não produto localizado, minimizado a um único povo, sociedade ou região.
V. Conceitos que afirmam a finalidade da igreja local como manifestação de sua apostolicidade
Além de compreendermos que a unidade (unificação), a santidade (santificação), a catolicidade (reconciliação) e a apostolicidade (proclamação) pertencem a natureza missionária da igreja, encontramos alguns outros conceitos para entendermos ser finalidade da igreja:
A existência para o mundo. A natureza missionária da igreja
Dietrich Bonhöffer afirma: “A igreja só é igreja quando existe para os outros”. De maneira muito clara, a idéia de ser igreja passa essencialmente pela sua manifestação física e palpável neste mundo. A igreja existe para o mundo quando se torna evidentemente o corpo de Cristo, e ao mundo ela é enviada como serva. Servo é a característica natural daquele que faz parte do Corpo, pois não poderá negar a sua natureza que é servir ao mundo. É na sua apostolicidade, que embora resgatados do mundo, os discípulos retornam ao mundo para proclamar a palavra de Cristo. Esta volta ao mundo reflete que é impossível ser igreja, sem estar no mundo. É na encarnação, que vemos o maior ideal da igreja. Quando a igreja se humilha, se contextualiza, convive com os pecadores, fala seu linguajar, ela manifesta a sua essência. Não há igreja sem a sua encarnação no mundo (Jo 20.21). O fato de ser apostólica, evidencia a razão de ser como uma atividade de doação de vida pelos que não a tem. É no dar-se ao mundo que a igreja manifesta o verdadeiro sentido de ser enviado a ele (Jo 15.13). Portanto é impossível a igreja manifestar-se como Corpo de Cristo sem expressar o seu valor intrínseco de “perder a vida para ganhá-la”. É no perder da vida que a igreja expressa sua apostolicidade e seu compromisso com o mundo (Mt 10.39).
Por isso Moltmmann expressa com muita ênfase: “As igrejas missionárias, não se desviam para o isolamento social, mas se tornam uma esperança viva em meio às pessoas”. É no meio do mundo, da sociedade, como fator de resposta aos anseios espirituais, emocionais, psicológicos, físicos e políticos, que a comunidade dos discípulos de Cristo, expressa sua finalidade missionária, isto é, existir para o mundo.
A característica da igreja de existir para o mundo não é facultativa; faz parte da existência da igreja. Isto é, não há igreja se não houver compromisso com pecadores. A igreja que não focaliza os pecadores, que não desemboca numa atitude permanente de doação e renúncia, pode ser um grupo religioso mas nunca será de fato o Corpo de Cristo em sua expressão exata e palpável neste mundo. A natureza missionária da igreja
O primeiro fator para sua manifestação ao mundo é que a Igreja existe para o mundo quando, porque ela manifesta o fato de Ter sido “enviada”. “O discipulado deve ser “discipulado em movimento-para-o-mundo . Charles Van Engen assevera: “O discípulo que não sacrificar a própria vida pelo mundo e pelo evangelho da reconciliação não é digno de ser seguidor de Jesus Cristo” O segundo fator para seu compromisso com o mundo é que a existência da igreja para o mundo relaciona-se com a sua universalidade. A existência da igreja é tão ampla quanto ao grau de abrangência do reino, que compreende o senhorio de Cristo.
2- A identificação com o desfavorecido.
O segundo conceito para entendermos a finalidade missionária da igreja é o que pode ser chamado a “identificação com o desfavorecido. Van Engen afirma: “…a igreja como ocorreu em qualquer outra época, tem a mesma dívida para com os pobres e oprimidos e a mesma responsabilidade pelo estado do mundo”. Ao caminharmos sobre a história bíblica, vemos muito enfaticamente que Deus, através de Israel no Velho Testamento e da Igreja no Novo Testamento, está interessado em que seu povo cuidasse dos desfavorecidos, oprimidos, viúvas e órfãos.
O texto de Isaias 58, profetizava que o jejum que agradava a Deus passava pela responsabilidade social. Deus não se agradava com a vida dos israelitas antes do exílio, quando os muitos sacrifícios no templo eram usados para se evitar a ajuda aos pobres, aos oprimidos e aos necessitados. O compromisso e a identificação com os marginalizados socialmente, levanta de fato a questão da igreja e sua responsabilidade social.
Em Atos 6, as viúvas estavam sendo esquecidas e a igreja agiu, suprindo as necessidades das mesmas. Isto demonstra que mesmo uma igreja cheia do Espírito Santo, batizada por Ele e dirigida por Ele pode chegar a se esquecer de tratar todos com respeito e valorização. A natureza missionária da igreja
Já em Tiago 1.27, o escritor reage radicalmente contra os que apenas se diziam cristãos e não exerciam qualquer compromisso social. Aqui Tiago reafirma que a demonstração da verdadeira religião passa pela identificação com os menos favorecidos. A natureza missionária da igreja
De uma maneira muito inteligente e cheio de autoridade David Barret responde que os cristãos de hoje são os maiores responsáveis pela desgraça do mundo. Diz ele: “Em grande parte, a porção que os cristãos compartilham de dinheiro, saúde, propriedades e bens materiais poderia resolver a maioria dos problemas do mundo, dentre os quais a fome, a pobreza, as doenças, o desemprego, a falta de saneamento e assim por diante. Por esta causa em certo sentido os cristãos são culpados pela persistência do atual estado de coisas”
A ação apostólica ou o envio
Este conceito acerca da finalidade missionária da igreja, enfatiza o primeiro princípio da missão que é a “encarnação”. Esta ação começa em João 1, quando vemos que a própria encarnação foi o primeiro envio. Apesar de as trevas não receberem a luz, isto não tornaria invalidado o envio e a difusão da luz.
Quando se fala em ação apostólica, fala-se de uma igreja dinâmica que não pode se fechar ou enclausurar em si mesma. A igreja torna-se missão ao seguir o Senhor como comunidade apostólica em movimento dinâmico constante, anunciando o evangelho do reino da luz em meio às trevas. Não há como negar que a missão, como ser integrante da natureza da igreja é uma missão dinâmica, isto sugere a sua missão “centrípeta” e direcionada ao mundo. Charles Van Engen comenta o desprezo que a igreja cristã tem dado ao ministério apostólico e chega a sugerir uma reavaliação do que seja igreja hoje. Ele afirma: “Missionários e pastores não tem dado o devido peso a esta ação apostólica, ou missão. Muitas vezes a missão é relegada a uma daquelas sonhadas categorias a que esperamos chegar algum dia em nosso ministério… enquanto isto, congregações muitas vezes relegam a “missão” à categoria de resto, dando prioridade às necessidades internas da congregação e dos membros. A Missão chama-nos a um re-exame radical. Se ela faz parte da essência da natureza da igreja como corpo de Cristo e povo de Deus, então deve ser a primeira da lista”
V. A finalidade Missionária da Igreja Local. A natureza missionária da igreja
Se já conseguimos definir o que é igreja e o que é missão e reconhecemos que não há condições de uma não ser sem a outra, temos que, apoiados na definição de seus atributos, definir objetivamente a sua finalidade, isto é: PARA QUE ELA EXISTE NO MUNDO?
De fato, necessita-se definir sua finalidade com isto buscar resultados práticos ao que se refere ao seu âmbito de congregação local, regional ou nacional. Há também que se definir princípios para igrejas no âmbito transcultural ou internacional.
Edward Dayton promove um questionamento acerca do papel que a igreja deveria exercer segundo os princípios bíblicos. Ele afirma: “Fique claro que nossa preocupação é com a definição do que a igreja deveria ser, sua natureza e finalidade essenciais, e não uma descrição do que ela é agora, ou senão o que tem sido na história da Igreja ou mesmo no NT. A igreja deveria ser o que Deus quer que seja, e buscamos nas Escrituras descobrir os desígnios de Deus para ela”.
A grande necessidade e por que não dizer hoje é redescobrir a igreja como comunidade, corpo de Cristo e não apenas como instituição. Talvez o grande pecado atualmente é a maneira como vemos a igreja. O segredo para torná-la “mais igreja” passa pela necessidade de enxergar a igreja mais como povo de Deus e não como um empreendimento. A natureza missionária da igreja
Charles Van Engen propõe o estudo e uso de quatro palavras essenciais, para que a igreja não venha a sucumbir. Isto é, para que a igreja se enxergue como a comunidade missionária, ela necessita manifestar quatro atitudes que provêm de quatro visões. A natureza missionária da igreja
1. Koinonia
A Koinonia é o grande vínculo que une os cristãos. Ao mesmo tempo que a comunidade dos discípulos de Cristo nutrem o amor fraternal, estes manifestam o novo mandamento que também é antigo. O que Cristo declara em João 13.34,35 é a chave para a missão da igreja: “Novo mandamento vos dou: que vos amei uns aos outros, assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” A natureza missionária da igreja
Quando interpelado sobre o maior de todos os mandamentos, Jesus resume no amor o verdadeiro estilo de vida daqueles que de fato expressavam a verdadeira fé. Jesus, portanto sintetiza toda a Lei em apenas dois versículos que denotam o intenso e sincero amor a Deus e consequentemente o amor ao próximo. (Mc 12.29-31)
Mas é interessante notar que, Jesus relaciona o amor promovido pela “koinonia” como fator preponderante para que a igreja cumpra sua finalidade missionária. “Nisto conhecerão todos”, expressa a funcionalidade e a finalidade pelo qual se ama, se relaciona: a missão a todos. A natureza missionária da igreja
É interessante ainda ressaltar que o fato da igreja expressar a sua koinonia, ao mesmo tempo, a comunidade refletirá o amor relacional da própria Trindade. Charles Barrett afirma com muita propriedade que o amor “corresponde ao mandamento que regula a relação entre Jesus e o Pai” Isto sugere que a Missão da Igreja está relacionada com o amor quando a mesma alimenta-se e relaciona-se entre seus membros com o mesmo amor expresso pela Trindade Santíssima. Charles Van Engen completa: “O amor dos discípulos uns pelos outros não é meramente edificante, mas revela o Pai e o Filho”. A natureza missionária da igreja
Amor neste caso não é meramente um sentimentalismo provocado pela emoção, mas sim um tipo de ação que o Pai e o Filho assumiram para si por amor ao mundo. A verdadeira koinonia expressada pela igreja tem uma desembocadura num mundo que, contemplando este amor relacional, recebe a mensagem missionária. Se a igreja não for comunidade de amor, a Palavra e o sacramento são um esforço em vão. A natureza missionária da igreja
O grande problema é que pode-se encontrar comunidades vivendo a mesma situação da igreja de Éfeso no final do primeiro século: “Tenho porém contra ti que abandonaste o teu primeiro amor” (Apoc.2.4). A igreja ativista, mais comprometida com o fazer do que com o amar pode seguramente manifestar apenas um amor superficial. Isto jamais evidenciará o compromisso com o mundo. A natureza missionária da igreja
Segundo Peter Wagner, a Koinonia pode tornar-se uma Koinonite. Isto é, quando se perde a finalidade para a qual a comunhão existe, o amor deixa de ser saudável para ser doentio. As atividades e as relações da Igreja tornam-se centrípetas isto é, voltadas para dentro, para si mesma. A natureza missionária da igreja
2. Kerygma
Kerygma, traz em seu bojo, a mensagem: “Jesus é Senhor” ( Rm 10.9; 1 Co 12.3). Esta verdade é a própria proclamação da igreja. Quando se pensa em comunidade, a própria comunhão da Koinonia, envolve uma proclamação (kerigma) do Senhorio de Jesus. O senhorio de Cristo impulsiona a Igreja para fora na proclamação do evangelho ao mundo. Cristo como Senhor, não é apenas Senhor da Igreja e do crente, mas este senhorio traz proporções universais. A ênfase de Efésios 1.10, demonstra que Jesus não é apenas Senhor de fato, mas também de direito. É na convergência em Cristo de todas as coisas, tanto as do céu como as da terra, que se clarifica e referende-se o Senhorio de Cristo. Como Harry Boer afirma: ” Há um elo entre o ensino neo-testamentário do senhorio de Cristo e o propósito universal de Deus. O senhorio de Cristo não é apenas um senhorio na Igreja e sobre o indivíduo que crê, mas sim senhorio com proporções cósmicas e universais”. A natureza missionária da igreja
A Confissão kerigmática “Jesus é o Senhor” obrigatoriamente implica movimento para fora, em direção ao mundo, às nações. Não há como manter a mensagem salvífica e soberana em uma redoma de vidro. Não há como não manifestar o Seu Senhorio, pois mesmo que a igreja se cale, como se calou, as pedras acabaram falando em alta voz. A verdade é que mais uma vez emudecer a proclamação do Senhorio de Cristo, é deixar de manifestar a natureza missionária da igreja. Pode acontecer que nem sempre a Missio Eclesiarum seja a de fato a Missio Dei. Não se pode confessar que Jesus é o Senhor sem, ao mesmo tempo proclamar o seu senhorio sobre todos. Portanto, Jesus é Senhor é a marca da Igreja missionária (Fp 2.9-11). A natureza missionária da igreja
Van Engen complementa: “Jesus é Senhor de todas as pessoas, de toda a criação e da igreja. Ele envia seu povo para um encontro radical com o mundo. Isso faz nascer uma necessidade e uma energia que impelem a igreja para a frente, em seu amor que brota para fora por meio da confissão para chegar à ação ou seja à Diaconia”
3. Diaconia
Uma das áreas da igreja mais esquecida é a Diaconia. A igreja somente manifesta sua natureza missionária quando de fato execre uma função diaconal para com o mundo. A natureza missionária da igreja
Jesus, quando fala sobre o julgamento final, põe em cheque a função diaconal de seus discípulos. O fato principal não é o quanto fizeram, mas o quanto não fizeram. “…porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, sendo forasteiro e não me hospedastes, estando nu e não me vestistes, achando-me enfermo e preso não fostes ver me” (Mt 25.43,44). A experiência de conhecer a Jesus, significa envolver-se com os outros nas suas calamidades, nas suas tragédias, em seus problemas, com uma palavra de esperança e atitudes que minimizem a dor da fome, da sede, da solidão, das instabilidades temporais, na solidariedade na enfermidade e da angústia . A igreja quando prega o Kerygma, mas se esquece da prática diaconal, ela vive um pseudo evangelho, e porque não dizer, uma vida cristã hipócrita. A natureza missionária da igreja
Não que Jesus faça uma “opção pelo pobres”, mas não há como negar que “pequeninos” é a condição de todos aqueles que estão sofrendo, sejam eles ricos ou pobres, brancos ou negros. Além do mais a igreja é aquela que tomará a sua cruz e morrerá para o mundo. Podemos Ter duas visões deste fato. Primeiro a Igreja morre para o mundo que rejeita seus princípios de vida, mas em segundo lugar a igreja morre para o mundo quando serve abnegadamente ao mundo, deixando-se degastar por ele. Acredito que esta é a base pela qual Jesus se coloca como servo, quando o mesmo diz: “O servo não está acima de seu Senhor” (Mt 10.24; Jo 13.16; 15.20). Logo as experiências do discípulo serão as experiências de seu mestre. Quando Jesus sendo Senhor e Mestre prova sua finalidade em estar no mundo, a igreja é o meio pelo qual ele continuará a realizar sua atividade diaconal.(Mt 10.18; Jo 13.16) A natureza missionária da igreja
A postura da igreja no mundo não é ser servida pelo mundo, mas sim servir ao mundo na perspectiva de serva, isto é aquela que leva ao mundo a possibilidade de uma restauração não somente espiritual mas também física e material. Mas este serviço necessita ser realizado com a humildade de Cristo (Jo15.20). A natureza missionária da igreja
A última parte de Mt 25.31-36 , trata da diaconia mas enfatiza-a na perspectiva de uma prestação de contas dos mordomos. A verdade é que esta figura de julgamento tem a ver muito mais com a omissão da igreja com respeito ao trabalho diaconal do que com a evangelização propriamente dita. A natureza missionária da igreja
Quando analisamos a visão diaconal da Igreja Primitiva, vemos que não havia uma departamentalização missão, mas tudo era missão. Desde o distribuir pão aos necessitados como viver em comunhão, como também pregar o kerygma.(At 2.42-47; At 4.32-5,1;At 6.1-7; At 9.36-42). Nas palavra de Van Engen, o ministério da diaconia são as mãos e os braços da igreja. Esta é a verdadeira comunidade de amor. Do amor que prega que faz sem esperar nada em troca. É a verdadeira religião pregada por Tiago (Tg 1,27). O fato de a igreja se manifestar diaconalmente expõe claramente que em sua natureza ela irá revelar o quanto ama a Deus. É na dedicação às pessoas que a igreja de fato revela seu profundo amor para com Deus. A natureza missionária da igreja
Van Engen afirma que “diaconia não é simplesmente uma coisa boa, é a natureza fundamental da igreja cristã. Ministrar a todos os necessitados de todos os lugares (At 1.8). Quando a igreja missionária de Deus deixa de lado o ministério diaconal, algo de sua natureza missionária deixa de brotar”. Van Engen
4. Martiria A natureza missionária da igreja
A palavra testemunho tem a ver com a proclamação aberta e convicta da igreja. Sem esta característica a igreja está parcialmente viva. Martiria tem a ver com a justiça e a Ética da igreja que é comprovada pela vida. Conquanto tenhamos que pregar o Kerygma, a Escritura nos desafia a provarmos isto com a vida. Martiria traz em seu bojo todo relacionamento que Israel mantinha com Deus. (Is 43.10,12; 44.8) e também expõe a necessidade de testemunhar ao mundo, através da vida, mesmo que isto tenha que incorrer em morte. (At 1.8) Mas Martiria também é uma conclamação à reconciliação (2 Co 5.20).
A igreja é comunidade de testemunhas. Testemunhas que se manifestam em favor da vida, da justiça de Deus. Não apenas testemunhas oculares de fatos, mas de fatos não vistos mas que são cridos (I Ts 1.10). Em alguns aspectos martiria também tem um sentido de falar até a morte.
“As pessoas que não conhecem a Jesus devem conhecê-lo na presença, proclamação e nos atos e palavras persuasivas da Igreja”. Na verdade, Ser testemunha vem denunciar o compromisso que a igreja tem com Cristo não somente na vida mas também na morte. A natureza missionária da igreja
VI. Conclusão A natureza missionária da igreja
Concluindo somos levados a ver a missão como algo estreitamente relacionado com o fato de ser da igreja. Não há como desvincularmos uma coisa de outra. A missão pertence de fato à natureza da igreja. Algumas aplicações devem ser feitas ao término deste trabalho. Primeiro, devemos tentar responder “quem somos nós”. Isto é, qual a nossa identidade como verdadeira igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo? A igreja somente manifestará sua genuína identidade quando expressar a seu envolvimento com o mundo de forma aberta e clara como Cristo fez. É na identificação e envolvimento com Jesus de Nazaré, que a comunidade dos discípulos de Cristo, manifestarão o testemunho dos de fora de que “estes verdadeiramente estavam com Ele”. É na justiça social, na vida de oração, na perseverança da doutrina, no partir do pão, no estender às mãos ao necessitado, aos desprezados. É na proclamação do Kerygma, na manifestação da sua diaconia ao mundo, e na sua koinonia que iremos nos identificar com Cristo que é o cabeça do corpo. Em segundo lugar devemos procurar responder “Onde estamos nós”. Se há uma identificação com o caráter de Cristo, a igreja então vai ao mundo, existindo por causa dele, fazendo-o ver a necessidade de uma conversão profunda mas de maneira integral. De modo que a evangelização e sua ação social não sejam simplesmente um departamento localizado na igreja local, mas o fato de existir por si mesma e interagir em um mundo decadente. A natureza missionária da igreja
Cabe a igreja descobrir sua essência, sua natureza e com a ajuda misericordiosa do Espírito Santo, exprimir em sua vida o que existe para a glorificar a Deus e goza-lo para sempre. Isto é a sua missão. A natureza missionária da igreja
VI. Bibliografia
1. VAN ENGEN, Charles. Povo missionário, povo de Deus. 1a edição. São Paulo. Edições Vida Nova. 1991
2. WALKER, W.W. História da Igreja Cristã. ____ edição. São Paulo. ASTE.
3. BLAUW, Johannes . A natureza missionária da igreja. ___edição. São Paulo. ASTE.
4. BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. 1ª edição. São Leopoldo. Editora Sinodal. 1980
5. CARRIKER, Timóteo. Missão Integral. 1a edição. São Paulo: Editora SEPAL. 1992
6. NEILL, Stephen, História das Missões. 2ª edição. São Paulo: Edições Vida Nova. 1997
7. BUENO, Luiz Augusto Corrêa Bueno. Eclesiologia Missionária. . Garanhuns, 1999. Apostila.
A natureza missionária da igreja A natureza missionária da igreja