OURO DE TOLO
Eles eram jovens, pobres e apaixonados. Tiveram um caso e ela engravidou.
Ele era um bom rapaz, mas desesperou-se. Sem ter como bancar os custos da paternidade, decidiu ir trabalhar num garimpo. “Coisa rápida, de uns 6 meses, no máximo. Só para juntar um pouco de dinheiro para começar a vida e poder dar ao filho uma infância melhor que a dele, e um futuro”.
Ela chorou muito, pois não queria ficar sozinha naquele momento, mas ele estava determinado e partiu, jurando escrever todos os dias e enviar-lhe um pouco de dinheiro todo mês, para já ir comprando o enxoval do bebê.
Mas as coisas no garimpo não eram bem assim. Ele trabalhava de sol a sol e o dinheiro que ganhava mal dava para se sustentar. Diversas vezes foi roubado, enganado e iludido.
Eo tempo foi-se passando. Não viu seu filho nascer nem crescer. Nunca escreveu uma carta. Nunca mandou notícias. Pura vergonha por ter partido e por ter fracassado.
No começo ele sentia uma forte dor no peito cada vez que pensava nela e na criança, mas depois de um tempo… bem, “as coisas acabam se ajeitando sozinhas, não é mesmo?”.
Os anos se passaram e ele procurava não pensar muito mais no assunto. Mudou de garimpo várias vezes, sempre correndo atrás de uma nova e promissora jazida.
Conheceu algumas mulheres, mas nenhuma delas jamais pode ocupar em seu coração o lugar que pertencia àquela que um dia amou de verdade.
Vinte e dois anos depois, finalmente ele juntou coragem para enfrentar seu passado e procurou seu filho.
Eles estavam bem, “Graças à Deus!”.
E o receberam com civilidade.
Ela havia se casado com um bom homem, que criou o menino como se fosse seu. Teve mais duas meninas com ele, e formaram uma família. Uma bela família.
Seu filho estava na faculdade. “Ia ser doutor, que bom!”.
Despediu-se e foi para a estação de trem. Sentou-se num banco, colocou a mão no bolso do paletó e olhou mais uma vez seu extrato bancário. Não tinha conseguido ficar rico garimpando, mas conseguiu guardar algum dinheiro no banco e tinha ainda três bons diamantes na mochila. No entanto, sentia-se completamente vazio, solitário e sem rumo.
Não hesitaria nem um segundo sequer em dar aquele dinheiro e os diamantes para ter de volta a sua juventude, a mulher que amou (e que continuava linda como sempre se lembrara dela) e a amizade, o respeito e o amor de seu filho. E uma família.
Neste momento seus pensamentos foram interrompidos por uma breve discussão de um jovem casal. Ela chorava, e o seu bebê também.
Aproximou-se do casal, pediu licença e perguntou o que estava acontecendo.
– Nós dois perdemos o emprego, disse ele, trabalhávamos numa mesma empresa, mas ela faliu. Fechou as portas, e nem o último salário nos pagou. Não temos quase nenhum dinheiro, nem para onde ir.
– Não briguem, por favor, pediu-lhes o garimpeiro, acreditem em mim, se vocês ficarem juntos e unidos, tudo vai dar certo. Vocês têm um ao outro, e têm o bebê.
Eles olharam bem dentro daqueles olhos tristes e viram que o homem tinha razão. E se acalmaram. E o bebê parou de chorar.
O garimpeiro, então, deu-lhes um pouco de dinheiro e os diamantes.
E voltou para o garimpo.
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Autor: Pr Ronaldo Alves Franco.