Um breve exame de O código Da Vinci
Bem-vindo ao misterioso mundo das conspirações, códigos secretos e documentos históricos escondidos desde os primórdios da igreja!
Se você não leu O código Da Vinci, permita-me apresentar a história e algumas idéias originais que você pode não ter ouvido antes, como, por exemplo:
Jesus foi casado com Maria Madalena! Deixaram descendentes que, por meio de casamentos, se misturaram à família real francesa!
Há séculos tudo isso é conhecido, mas a verdade foi mantida longe do conhecimento público por se temer a destruição do poder da igreja! Aliás, há uma organização secreta responsável por guardar documentos que, se trazidos a público, destruiriam o cristianismo como o conhecemos!
“Os rumores dessa conspiração vêm transparecendo há séculos”, diz o bem-sucedido escritor Dan Brown, em O código Da Vinci. Aliás, esse rumores têm se revelado “em inúmeras linguagens, incluindo as artes, a música e a literatura”.
Também somos informados de que algumas das provas mais impressionantes se encontram nas pinturas de Leonardo da Vinci.
Há meses O código Da Vinci se encontra nas listas dos mais vendidos, e, com um filme a ser lançado em um futuro próximo, o romance certamente se tornará ainda mais conhecido. Se você não leu o livro, certamente conhece alguém que o tenha lido. Muitas pessoas estão pensando que ele contém alguma verdade. As evidências históricas podem ser questionáveis, mas, como disse um crítico: “Por que não podemos crer que isso poderia ter acontecido?”.
Antes de responder a essa pergunta, vamos fazer um exame das premissas do livro. A história, em suma, é a seguinte: O código Da Vinci começa com o curador do Louvre caindo morto em uma poça do próprio sangue. Nesse ínterim, Robert Langdon, professor de Harvard e especialista em símbolos esotéricos, está em Paris a negócios. A polícia francesa localiza Langdon em seu hotel e lhe pede que interprete um código deixado próximo ao cadáver da vítima assassinada. Em sua investigação, Langdon é acompanhado por uma jovem criptóloga chamada Sophie Neveu.
Quando Sophie, em segredo, alerta Robert de que ele é o principal suspeito do assassinato, eles fogem. Mas a vítima havia intencionalmente deixado pistas para que eles seguissem. Ao decifrarem as instruções em código deixadas pelo curador, Robert e Sophie rapidamente percebem que o crime está ligado à lendária busca pelo Santo Graal.
Providencialmente, o casal consegue se associar a um fanático do Graal, sir Leigh Teabing, cuja vasta pesquisa e conhecimento auxilia seus esforços na busca do Graal.
Teabing, de forma entusiástica, apresenta ao casal os assuntos que cercam os acontecimentos do Novo Testamento, o que inclui uma compreensão alternativa de Jesus, de Maria Madalena e da natureza do Santo Graal.
Ele cita os evangelhos gnósticos — documentos antigos que presumivelmente trazem relatos mais confiáveis sobre a vida e os ensinos de Cristo do que o Novo Testamento que conhecemos hoje.
Ainda procurados pelas autoridades, Robert, Sophie e agora sir Leigh escapam para Londres e depois para a Escócia, na esperança de encontrar mais indícios sobre o assassinato e sua relação com o Santo Graal.
O leitor fica em suspense enquanto as personagens, determinadas e inteligentes, penetram em um mundo secreto de mistério e conspiração, na tentativa de desmascarar séculos de engano e silêncio. Sempre um passo à frente da polícia, eles conseguem se valer de códigos secretos e manuscritos que a igreja tem tentado esconder do público.
É possível que a parte mais interessante do livro, a qual forma sua essência, seja a idéia de que Jesus se casou com Maria Madalena, união da qual lhes nasceu uma filha. Reza a lenda que, após a crucificação de Jesus, Maria e a filha, Sara, partiram para a Gália, onde fundaram a linhagem dos merovíngios, na monarquia francesa.
Lemos ainda que essa dinastia perdura até hoje na misteriosa organização conhecida por Priorado de Sião, organização secreta que tinha os templários como braço militar. Há a suposição de que Leonardo da Vinci, Isaac Newton e Victor Hugo tenham figurado entre os membros dessa organização. Até hoje, afirma Teabing, os restos de Maria Madalena e os registros escavados pelos templários estão guardados, envoltos em segredo e mistério.
E não pára por aí: O código Da Vinci reinterpreta o Santo Graal como nada mais, nada menos que os restos da esposa de Jesus, Maria Madalena, que reteve o sangue de Cristo em seu útero enquanto carregava sua filha.
Segundo o livro, Jesus tinha a intenção de que Maria Madalena liderasse a igreja, mas “Pedro não via isso com bons olhos”. Assim, ela foi declarada prostituta e afastada do papel de liderança. Ao que tudo indica, a igreja queria um salvador celibatário que perpetuasse o domínio masculino.
Por esse motivo, após seu marido ter sido crucificado, Maria desapareceu com a filha e tornou a aparecer na Gália. Fosse verdadeira essa teoria, ainda teríamos descendentes de Jesus entre nós.
Robert e sir Leigh contam a Sophie que a verdadeira história sobre Maria fora preservada por meio de códigos e símbolos cuidadosamente encobertos, a fim de evitar a ira da Igreja Católica. Nesses códigos secretos, o Priorado de Sião tem conseguido preservar a própria versão da vida conjugal de Jesus e Maria, sem jamais contar toda a verdade.
Também lemos que Leonardo da Vinci sabia tudo a respeito dessa história, tendo usado sua famosa pintura, A Última Ceia, para ocultar diversos significados. Nessa pintura, João está sentado à direita de Jesus, mas carrega características femininas. No fim das contas, constata-se que a pessoa ao lado de Jesus não é João, mas Maria Madalena. E, de forma reveladora, Leonardo não pintou um copo ou cálice sobre a mesa, outra pista de que o verdadeiro Graal é Maria, sentada à direita de Jesus!
Enquanto Robert, Sophie e sir Leigh prosseguem em sua investigação, a poderosa organização católica Opus Dei está pronta para se utilizar de todos os meios necessários a fim de manter o segredo encoberto, incluindo-se o assassinato.
Dispondo dos amplos recursos financeiros da igreja, a Opus Dei está decidida a obrigar os líderes do Priorado a revelar o mapa que traz a localização do Graal. Se os segredos do Priorado fossem revelados, a igreja seria desmascarada como uma fraude edificada sobre séculos de falácias.
Os objetivos de Dan Brown não são tão sutilmente velados. Esse livro é um ataque direto contra Jesus Cristo, a igreja e aqueles de nós que o seguem e o chamam Salvador e Senhor.
De acordo com o romance de Dan Brown, o cristianismo foi inventado para reprimir as mulheres e afastar as pessoas do “sagrado feminino”. Como seria de esperar, o livro atrai as feministas que vêem no retorno à adoração da deusa algo necessário no combate à supremacia masculina.
A conclusão dessa teoria é que o cristianismo se baseia em uma grande mentira ou, mais exatamente, em várias grandes mentiras. Antes de tudo, Jesus não era Deus, mas foram seus seguidores que lhe atribuíram divindade a fim de reforçar o domínio masculino e reprimir quem adorasse o sagrado feminino. Aliás, segundo Dan Brown, foi no Concílio de Nicéia que Constantino introduziu o conceito da divindade de Cristo com o fim de eliminar toda a oposição, declarando herege quem discordasse. Além disso, Constantino também escolheu Mateus, Marcos, Lucas e João como os únicos evangelhos que se encaixavam em seus planos machistas. Oitenta outros evangelhos foram rejeitados, uma vez que apontavam Maria Madalena como a verdadeira líder da igreja. “Era tudo uma questão de poder”, diz o livro.
Por mais incrível que pareça, descobrimos que Israel, no Antigo Testamento, adorava tanto o Deus masculino Jeová como sua correspondente feminina, Shekinah. Séculos mais tarde, a igreja oficial, que odeia o sexo e a mulher, reprimiu essa adoração à deusa e eliminou o sagrado feminino.
Esse conceito de sagrado feminino que a igreja tentou reprimir é, na verdade, a idéia pagã de que em ritos sexuais o homem e a mulher experimentam comunhão com Deus. “A união física com a mulher era o único meio pelo qual o homem podia se tornar espiritualmente completo e chegar a atingir a gnose — o conhecimento do divino.” Mas esse uso do sexo para entrar em comunhão com Deus representava uma ameaça à Igreja Católica, visto que minava seu poder. “Por motivos óbvios, a igreja fez de tudo para demonizar o sexo e reinterpretá-lo como um ato pecaminoso e repulsivo. Outras religiões importantes fizeram o mesmo.”
“… quase tudo o que nossos pais nos ensinaram sobre Jesus Cristo é mentira”, lamenta Teabing. O Novo Testamento não passa do produto de uma liderança machista que, para controlar o Império Romano e reprimir a mulher, inventou o cristianismo. O Jesus verdadeiro era um genuíno feminista, mas seus desejos foram desconsiderados para proteger os objetivos masculinos.
Se O código Da Vinci fosse anunciado como apenas um romance, seria meramente uma leitura interessante para fanáticos por conspirações que se agradam de suspenses agitados.
O que torna o livro preocupante é a alegação infundada de que se baseia em fatos. Nas páginas preliminares, lemos que o Priorado de Sião existe, assim como a Opus Dei: seita profundamente católica e um tanto controversa em virtude de relatos de lavagem cerebral, coerção e “mortificação corporal”.
Por fim, podemos ler: “Todas as descrições de obras de arte, arquitetura, documentos e rituais secretos neste romance correspondem rigorosamente à realidade”.
Em seu site, Dan Brown faz ainda outras declarações sobre a confiabilidade histórica da obra. Alguns críticos enalteceram o livro por sua “pesquisa impecável”. Uma mulher, ao ouvir que o livro era uma fraude, contestou: “Se não fosse verdade, não teria sido publicado!”. Um homem disse que, agora que tinha lido o livro, jamais conseguiria voltar a entrar em uma igreja.
Os leitores devem saber que a trama central desse livro já existe há séculos e pode ser encontrada na literatura esotérica e da Nova Era, como em O Santo Graal e a linhagem sagrada, de Michael Baigent, que serviu de referência para o romance.
A diferença consiste no fato de Brown ter embrulhado essas lendas em um conto aparentemente histórico hoje lido por milhões de pessoas. Muitos que lêem o livro ficam imaginando se o que ele afirma poderia, ao menos em parte, ser verdade.
Quando a ABC realizou um documentário sobre O código Da Vinci, deu credibilidade ao livro e, na maior parte das vezes, desprezou estudiosos a favor de rumores sensacionalistas e especulações sem fundamento. Embora o programa tenha terminado com a declaração “Não temos nenhuma prova”, fica claro que o livro recebe certo respeito ao sugerirem que, com ou sem provas, Dan Brown pode ter esbarrado em alguma coisa.
Pouco tempo atrás li The Templar revelation: secret guardians of the true identity of Christ, escrito por Lynn Pickett e Clive Prince, que apresenta temática semelhante à de O código Da Vinci, supostamente baseada em pesquisas históricas. Esse livro tenta legitimar a idéia de que Maria Madalena foi a mulher designada por Jesus para iniciar a igreja. Ainda sustenta que o Novo Testamento teve toda a questão ritualística censurada, incluindo-se os ritos sexuais. Até que ponto é plausível que uma conspiração tenha mantido em segredo a verdadeira história de Maria e Jesus?
Se isso for verdade, toda a estrutura da teologia cristã é uma trama para enganar as massas. Se for fato, todos os apóstolos fizeram parte dessa trama e estavam dispostos a dar a vida pelo que sabiam ser mentira. Se for verdade, nossa fé, a fé dos que confiam em Cristo, não tem fundamento.
Para saber mais, leia o livro:
A fraude do código Da Vinci
Editora Vida
Código Da Vinci
Código Da Vinci.
Autor: Dr Erwin W. Lutzer
Código Da Vinci.