O HOMEM PÓS-MODERNO, RELIGIÃO E ÉTICA
Wilmar Luiz Barth*
ENTENDA A MENTE DESTE SÉCULO
Resumo
A pós-modernidade provoca o surgimento de uma nova religião e de uma nova ética. Sem compreender os valores e a cultura pós-moderna, torna-se difícil compreender as pessoas, os novos valores sociais e individuais e provocar uma mudança. No seu estudo o autor trata de apresentar um perfil do homem pós-moderno e indicar algumas pistas de ação. O mérito do artigo está em demonstrar que a pós-modernidade aponta para um novo tempo, ainda não delineado, mas de superação da atual condição.
Introdução
Vivemos o tempo da novidade. O “novo” coordena, ordena e altera tudo. Se conjuga com “moderno”. É moda. É bom. É pós-moderno. O início desse processo é difícil de estabelecer. Quem estuda esse fenômeno é David Harvey, no seu livro Condição Pós-moderna, publicado na França, em 1989. Segundo ele, vem ocorrendo uma mudança abissal nas práticas culturais, bem como político-econômicas desde 1972. Segundo o pensamento de Leonardo Boff, “a pós-modernidade participa de todos os pós-ismos (pós-histoire, pós-industrialismo, pós-estruturalismo, pós-socialismo, pós-marxismo, pós-cristianismo, etc.) com aquilo que eles têm em comum: a vontade de distanciamento de certo tipo de passado ou a recusa a certo tipo de vida e de consciência, a percepção de descontinuidade sentida e sofrida no curso comum da história, e a sensação de insegurança generalizada”. O certo é que a pós-modernidade se conjuga com uma série de fatores que vão desde a crise da industrialização, da massificação dos meios de comunicação e transporte, da informática, da eletrônica, da telemática, se reforça com as mudanças sociais marcadas pelo desenvolvimento econômico e a crise do mercado, a diversificação e crise das instituições sociais, a urbanização crescente e o surgimento das megalópoles, dos protestos e lutas sociais, da alteração de papéis sociais, passando pelo crise do racionalismo, a eliminação de mitos, a quebra de tabus e preconceitos, a secularização e, finalmente, a um retorno ao sentimento, a explosão religiosa e a um novo comportamento diante do mundo, do outro, de si mesmo e de Deus. Em poucas palavras, do “moderno” nasce a “modernidade” e esta foi transformada em“pós-modernidade”.
É um tempo de mudança, de crise, de morrer ao tradicional, de abandonar o velho e abraçar o novo, de quebrar paradigmas e estabelecer novas formas de vida e valores. É tempo de ser diferente, de inventar diferenças e conviver pacificamente com o diferente. Do “ser do contra” passamos a “amar o contrário” e, hoje, somos “neutros diante das diferenças”.
Não é fácil estabelecer uma definição desse processo. Deve-se, no entanto, ter presente que o desenvolvimento econômico e tecnológico ocasionou uma transformação social e a formação de uma nova mentalidade.
É um processo de “crise” social que levou à configuração de um novo homem, uma nova sociedade, uma nova ética e também de uma nova religião. Essa crise colocou em xeque o modelo e os valores existentes e fez nascer o desejo de superação de tudo. Este “novo” foi assumido e definido como “bom”.
Utilizo-me de Mike Feathestone, que apresenta as seguintes pontos norteadores desse processo:
a) Movimento que se afasta das ambições universalísticas das narrativas mestras… e caminha em direção a uma ênfase no conhecimento local, na fragmentação, no sincretismo, na “alteridade” e na diferença.
b) Dissociação das hierarquias simbólicas que acarretam julgamentos canônicos de gosto e valor, indo em direção ao colapso populista da distinção entre a alta cultura e a cultura popular.
c) Tendência à estetização da vida cotidiana.
d) Descentralização do sujeito, dando lugar à fragmentação, jogo superficial de imagens, sensações e “intensidades multifrênicas”.
O homem “light” de Henrique Rojas
Em seu livro El hombre light, Enrique Rojas faz uma descrição muito realista do homem atual e que assume contornos muito negativos.
Segundo ele, os produtos “light” deram origem ao homem “light” e à vida “light”, caracterizada pelo fato de que tudo está sem calorias, sem gosto ou interesse. A essência das coisas não importa, só é quente o superficial, e a vida pode ser comparada a um coquetel, onde tudo pode ser experimentado, mas tudo está desvalorizado.
Centrado em aproveitar bem o momento e consumir, em se interessar por tudo e, ao mesmo tempo, por não se comprometer com nada, o homem light ajeita tudo. Para ele, tudo é transitório, passageiro e assim até a democracia e a vida conjugal se tornam lights. O lema é não exigir muito e alcançar uma tolerância absoluta. Não existem desafios, nem metas heróicas e grandes ideais, nem um esforço ou luta contra si próprio.
O homem moderno, conforme descreve Rojas, é sumamente vulnerável. Embora seja atraente, dinâmico e divertido, é um ser vazio, sem idéias, evasivo e contraditório. Rebela-se contra todos os estilos de vida reinante. Sempre bem-informado, mas com escassa formação, perde-se no folclórico e, diante de tantas notícias, cria uma espécie de mecanismo de defesa, ficando insensível. É pragmático e se interessa por vários assuntos ao mesmo tempo. Tem uma curiosidade insaciável, porém maldirigida e que não o leva a lugar nenhum. Conhece muito bem sua área de atuação, mas não consegue fazer síntese.
Como não tem critérios sólidos, o homem light é superficial e aceita tudo. Geralmente não tem um projeto de vida e lhe interessa ter, possuir, comprar mais e consumir loucamente. Compra coisas e depois se arrepende. Fabrica sua verdade de acordo com suas preferências, escolhendo o de que gosta e rejeitando o que não lhe apetece. Exige poder “ficar a sós”, “precisa retirar-se”. Uma solidão sem rebelião pessoal e sem análise.
Sua ideologia é o pragmatismo. Sua norma de conduta é a vigência social, as vantagens que leva, o que está na moda. Sua ética se fundamenta na estatística, substituta da consciência. Sua moral, repleta de neutralidade, carente de compromisso e subjetividade, fica relegada à intimidade, sem se atrever a sair em público. Tudo é suave, ligeiro, sem riscos; somente faz algo com garantia. Em sua vida, não há rebeliões, pois sua moral se converteu numa ética de regras de urbanidade ou mera atitude estética.
É frio, não acredita em quase nada, suas opiniões mudam rapidamente e deixou para trás os valores transcendentes. Busca o prazer e o bem-estar a qualquer custo, além do dinheiro. Para ele tudo é descartável, inclusive as pessoas. Passa por cima de tudo e de todos para buscar a fama, o sucesso, o triunfo. Vive unicamente para si, para seu prazer, sem restrições.
O homem moderno, conforme Rojas, não é feliz. Ele tem uma certa dose de bem-estar, tem prazeres, mas vive esvaziado da autêntica alegria. A forma suprema de prazer é a sexual, o orgasmo. Busca o imediato, a satisfação rápida e sem problemas, que a longo prazo só acumula fracassos. Guy Debord chega a afirmar que “estamos diante da sociedade do espetáculo”, como forma de fuga de tudo e de todos.
João Batista Libanio não deixa de expressar sua visão do jovem pósmoderno:
Na descrição de Rojas, vale observar outros aspectos. Segundo ele, o homem light vive o realismo à la carte, no qual vê o que quer e interpreta a realidade de forma particular, acomodando-se a seus planos e preferências. Despedaçado e picado, se faz segmento parcial de acordo com o que lhe apetece, e se isola dos outros homens.
Valoriza a cultura de tipo kleenex, rápida, ligeira, leve, pois não tem muito tempo para a leitura e se distrai facilmente. As revistas de fofocas são objeto constante de interesse. Leva na sacola ou apresenta os best-sellers, mas não os lê, ou se o faz, não termina a leitura. A leitura, no máximo, serve para combater o tédio de uma tarde de férias.
Isso leva Hans Magnus a reconhecer que estamos diante da mediocridade de um novo analfabetismo que chama de “analfabeto secundário” e para o qual a mídia ideal é a televisão. João Libanio conclui:
“O tempo das leituras é substituído pelas horas de academia com malhações e outros cultivos corporais”.
Viver cansado é marca registrada do homem light. Cansaço que vem da luta permanente contra os revezes, transtornos e frustrações da vida. Mistura de sentimentos desagradáveis como a ociosidade, a apatia, o abandono, a impressão de fazer tudo com excesso de esforço, caindo tudo numa certa negligência, preguiça, desalento, pessimismo, desânimo e o sentimento de impotência em relação à vida. Parece que está arrebentado por dentro. O motivo real disso está na falta do projeto de vida e do vazio interior.
Além dessas marcas, o homem moderno assume a marca da indefinição, do inconstante, da versatilidade. Carrega consigo o constante estresse, o pessimismo, o desencanto e, acima de tudo, a depressão.
Sonha com o relax, o tempo livre e quer tudo para hoje. Parece que sua única alegria e realização está na capacidade de escolha livre dentre uma infinidade de alternativas. Vive e dá asas à ficção, de diversas formas: na literatura, no cinema, na televisão ou em jogos de internet. As drogas são a forma simples e fácil de “viajar” neste mundo da fantasia.
Ideologias presentes na vida do homem pós-moderno
a) Materialismo: faz com que um indivíduo obtenha certo reconhecimento social pelo simples fato de ganhar muito dinheiro, ter objetos que todos têm ou que são moda no momento. Para isto, não se medem esforços e se cancelam os valores éticos: “ter” acima do “ser” ou “ter” para “ser”!
b) Hedonismo: A lei máxima de comportamento é o prazer acima de tudo, a qualquer preço. A busca de uma série de sensações novas e excitantes. O prazer é passageiro, sem compromisso e nem amor. O outro vale enquanto objeto de prazer sexual e cada um pensa na sua própria satisfação. Não há vínculos. Se consome sexo, tudo a baixo preço. É um momento de prazer fugaz, que não colabora para o amadurecimento da personalidade; é um consumo de sexo em diferentes versões. A pornografia, as revistas, os vídeos, os serviços telefônicos eróticos, etc., se converteram num grande negócio, no qual se exploram paixões mais ligadas aos instintos. “Essa juventude pósmoderna é fruitiva. Estabelece o dogma principal do prazer em torno do qual erige os cultos, os ritos, os símbolos. E busca um prazer a curto prazo, imediato, presente”.
c) Permissivismo: Tudo é permitido, o que arrasa os melhores propósitos e ideais. A busca ávida do prazer e do refinamento, sem nenhum outro questionamento. A ética permissiva substitui a moral, o que leva a um desconcerto generalizado. Tudo é bom, desde que você se sinta bem!
d) Relativismo: Tudo é relativo. A subjetividade dita as regras. Não há nada absoluto, nada totalmente bom ou mau e as verdades são oscilantes. Desta tolerância interminável, nasce a indiferença pura. Vale a ética do consenso, a opinião da maioria. Para Rojas, esse homem “padece de uma certa melancolia new look: instrumento de experiências apáticas” e L. Boff: “Disso resulta uma cosmovisão política e estética em relação à qual ninguém precisa estar contra, porque, irrelevante, não modifica o curso da história”.
e) Consumismo: Representa a fórmula pós-moderna da liberdade. O ideal de consumo da sociedade capitalista não tem outro horizonte, além da multiplicação ou da contínua substituição de objetos (ainda em perfeito estado de uso) por outros cada vez melhores. O resultado disto é a cultura do desperdício, onde se vive para consumir e essa é a única imagem valorizada. As grandes transformações sofridas pela sociedade, nos últimos anos, são, a princípio, contempladas com surpresa, depois com progressiva indiferença ou, em outros casos, como a necessidade de aceitar o inevitável. Colocar-se contra é como ir contra a maré. A propaganda cria falsas necessidades, objetos sempre melhores criam o desejo impulsivo de comprar. A permissividade prega a chegada de uma etapa decisiva da história, onde não há vencedores nem vencidos; por isso, deve-se aproveitar tudo e ir cada dia mais longe. Se tudo cai no ceticismo ou num individualismo fatal, o que ainda pode surpreender ou escandalizar? Isto produz vidas vazias, mas sem grandes dramas, nem vertigens angustiantes ou tragédias. É a metafísica do nada, pela morte dos ideais e a superabundância do resto. A conseqüência inevitável do comsumismo se manifesta em duas crises: a econômica e a ecológica.
f) Nihilismo: viver a liberdade total é o ideal maior. O homem liberal é aberto, pluralista, transigente, tolerante, capaz de dialogar com quem defende posturas totalmente distintas e contrárias às suas, o que somente o leva a uma indiferença relaxada. Disso aflora a paixão pelo nada, que leva ao vazio, e tudo isso sem dramas, catástrofes ou vertigens trágicas. A pergunta principal é: por que não? O relativismo e ceticismo têm um tom devorador porque desta mistura emerge um homem pessimista, desiludido. Reina a indiferença à verdade. Se não existe uma verdade, tudo é passageiro, frágil e provisório. Assim, surge a idéia de consenso como juiz último: o que a maioria disser é a verdade. No fundo, não existe uma verdade, cada um tem a sua, o que desemboca na impossibilidade de existir uma ética comum.
No fundo, cada um faz o de que gosta e lhe dá prazer. No final, o que pode mais chora menos.
Marca registrada ou constantes do homem pós-moderno
a) Pluralidade: Não existe um padrão, uma forma, uma uniformidade, uma antropologia, mas projetos antropológicos, uma variedade de projetos, resultando em contradições e fragmentos. “A tolerância, ao lado do pluralismo, é outro valor básico”.
b) Novidade: O homem pós-moderno é aberto, criativo, não preso a formas e tradições, identificadas como “velhas” e “ultrapassadas”. A novidade não está somente em dar forma nova ao tradicional, mas criar algo genuinamente autêntico e com tom moderno.
c) Secularização: O homem moderno não procura acabar com Deus e as formas religiosas. Simplesmente desloca para o universo amplo de realidades que o circunda. Não é Deus, não é o universo, mas ele é o centro. Tudo passa a existir e ter valor enquanto serve de resposta às necessidades e desejos.
d) Racionalidade: Uma racionalidade pragmática, onde vale a experiência e se busca compreender sempre melhor a realidade das coisas, a partir dos ditames da razão. Somente existe aquilo que foi decifrado e decodificado pelo microscópio. A técnica aperfeiçoa a natureza e a molda para os fins e interesses humanos. Conseqüentemente, não existem mitos e os esquemas lógicos e científicos são os que dominam.
e) Imersão no universo: O homem moderno se descobre imerso num universo maior que o circunda. Sente-se parte dele e tem a tendência a deixar-se levar pelos ventos. Suas fraquezas encontram nas forças da natureza justificativa plausível e desfruta os prazeres como partes do seu instinto.
Perfil positivo do homem pós-moderno
Um homem que percebe e projeta uma infinidade de possibilidades. Um homem auto-confiante, rodeado de abundância e que consegue facilmente resolver seus problemas econômicos. O que outrora a sorte reservava para poucos, hoje é considerado um direito de todos.
Agraciado pela inovação técnica, científica e pela mudança social, marcada pela liberdade, a democracia e a produção industrial. A pósmodernidade resgata o valor da subjetividade, do emocional acima do racional e do sujeito mergulhado na imensidão do universo.
Um homem rodeado de direitos e que dispõe de um aparato social fortemente voltado para ele. A consciência progressiva dos direitos individuais e sociais fizeram os homens todos iguais, realidade nunca experimentada antes.
Mergulhado na liberdade e cercado de direitos que lhe garantem essa liberdade. Um homem projetado para o futuro. Tudo é calculado em vista do futuro. Vive para o futuro e em vista do futuro. Percebe que tem responsabilidades com o futuro.
Um homem que faz a experiência de ser parte do cosmos, liberto de todo controle, aberto para novas experiências. Um homem que se nega a sujeitar-se a uma ideologia, seja capitalista ou socialista, que resgata a subjetividade e exige sua expressão, em todos os sentidos.
Secularização
O termo “secularização” engloba vários componentes. Geralmente se compreende como a “vida sem Deus e sem religião”. Isto porque no passado eram esses componentes a ditar a visão de mundo, a autocompreensão e definição humana e a orientação do agir. A tentativa de estabelecer um binômio ou oposição como Deus-mundo, fé-razão, ciência-crença, não são verdadeiros deste período. Na verdade, a secularização não quer eliminar Deus e a religião, mas simplesmente fazer que ocupem o seu novo espaço dentro do novo horizonte de compreensão. Na visão e compreensão do homem moderno, o centro do universo passa a ser ele mesmo. Deus e o mundo passam para um segundo ou terceiro plano.
Alguns fatos são responsáveis por esse fenômeno, mas surtiram efeitos no próprio homem, na sua visão de mundo e de si mesmo.
Colaboraram para isso: Copérnico e a confirmação de que o sol é o centro do universo; Galileu Galilei e a descoberta de que a terra gira ao redor do sol; Charles Darwin e a sua teoria de que o homem descende do macaco; Sigmund Freud e a intuição de que o homem é um conjunto de emoções não muito diferentes dos outros animais. A moderna genética também exerce uma forte e atual presença: reduz o indivíduo e suas manifestações a fatores de genes e DNA.
O homem passa a ocupar a primazia no conjunto da realidade global, tudo é orientado em sua direção e desbanca a Deus. No entanto, ele se descobre pouco consistente e frágil. A certeza e organização e explicação do universo cedem espaço para a incerteza e provisoriedade.
Porém, o termo “secular” engloba alguns outros elementos os quais merecem atenção, como, por exemplo, a valorização da experiência como forma de conhecer o universo e a si mesmo. As pessoas querem cada vez mais experiências e não aceitam não poder realizá-las.
Para isto não basta somente a comprovação científica. Cada pessoa se torna um cientista, querendo “experimentar tudo e de tudo!”, como direito que lhe cabe. Não basta mais “aquilo que nossos pais nos contaram”, senão aquilo que cada um mesmo experimenta. O fator de avaliação dessas experiências não é objetivo, mas subjetivo, a partir dos efeitos, resultados e do papel que a mesma experiência joga no universo de sensações pessoais. Nesse caso, a mesma experiência pode ser vista como positiva ou como negativa, dependendo dos sujeitos implicados na mesma.
Nessa tentativa não existem fronteiras. A vida passa a ser medida a partir das experiências realizadas. O limite a ser alcançado é único: a globalidade. Assim, muitos se colocam a caminho, literalmente montados em suas bicicletas, embarcações, balões, carros, etc., afinal, não existem limites. Aventurar-se em busca do novo, do diferente, ir além fronteiras.
No fundo, o fato revela o interior insaciável desse homem moderno. Ele quer conhecer a Deus, a si mesmo e o mundo, estabelecer novos paradigmas de compreensão do universo. No fundo, descobre-se o antigo desejo humano de conhecer-se a si mesmo.
Somente a partir da experiência é que começa a elaborar uma resposta e ação pessoal. Porém, tudo é muito frágil e provisório, afinal, a experiência não se esgota. O amanhã poderá ser diferente e, nesse caso, as determinações de hoje poderão não ser as mesmas de amanhã.
O importante é não ter amarras, não se aprisionar a nada. Se, no passado, o estabelecimento de Deus e seu senhorio no universo resultavam no estabelecimento de verdades absolutas e um papel periférico ao homem, agora não existem absolutos. Tudo é muito provisório, relativo, em vir-a-ser. Tudo é projeto, não existe nada acabado.
Esse processo colabora para que o homem moderno passe a uma fase de auto-assunção, comparado à maioridade, onde se reconhece como responsável por si e por sua própria história, responsável pelo universo e pelos demais.
Ética pós-moderna
A tendência é pensar que o homem pós-moderno não tem uma moral, ou seja amoral, como se não tivesse valores ou até mesmo uma capacidade moral. No entanto, não é bem essa a realidade. A pósmodernidade somente alterou os valores morais. Do bem passamos para a idéia do bem-estar e esse valor é fundamental na cultura atual.
É necessário ter presente que já não se vive mais o mundo marcado por fortes estruturas sociais, por instituições fortes, por mitos e tabus, pela figura do Deus castigador, de leis eternas e imutáveis, de um controle social excessivo e atrofiador, mas que o homem pós-moderno se tornou o centro, o referencial único. Ou, como afirma David Harley:
“A experiência do tempo e do espaço se transformou, a confiança na associação entre juízos científicos e morais ruiu, a estética triunfou sobre a ética como foco primário de preocupação intelectual e social, as imagens dominaram as narrativas, a efemeridade e a fragmentação assumiram precedência sobre verdades eternas e sobre a política unificada, e as explicações deixaram o âmbito dos fundamentos materiais e político-econômicos e passaram para a consideração de práticas políticas e culturais autônomas”.
A autonomia pessoal e a democracia são as únicas formas de ordenamento da vida e das ações. Aliás, tendo-se libertado de toda forma de controle e domínio, esse homem já não aceita qualquer tipo de heteronomia. Isto explica o porquê de sua revolta contra qualquer tipo de lei, especialmente religiosa, pois são reconhecidas como responsáveis pelo controle excessivo ocorrido no passado. Lipovetsky afirma que passou o tempo do “tu deves” e do tempo da moral “rigorista”. “A pós-modernidade liberou as subjetividades do enquadramento forçado em instituições totalitárias, com suas éticas rígidas, como são, geralmente, as religiões, as igrejas, os partidos ideologicamente totalitários e as filosofias globalizadoras”.
Mesmo percebendo a verdade de certas proposições éticas históricas e sociais, o homem pós-moderno rejeita-as, porque não provém de sua própria formulação ou experiência. Assim como um adolescente, as verdades ensinadas somente serão assumidas pessoalmente na proporção da experiência e da verdade por elas reveladas.
Não se aceitam mais normas e regras morais, senão aquelas que forem descobertas como importantes e necessárias, a partir do protagonismo humano. A heteronomia (moral proposta por outro além de mim mesmo), nesse caso, cede seu espaço para a autonomia moral (cada um estabelece a sua moral). A verdade de um único sistema moral, um único conjunto de verdades dá seu lugar a um conjunto variado de verdades e a sistemas abertos e aleatórios, o que fatalmente leva ao desajuste geral e uma verdadeira crise. Por toda parte ecoam ações e estilos de vida desfigurados daquela verdade outrora absoluta e se percebe uma atrofia de consciências e o aparecimento de novos estilos e comportamentos. Estes são tolerados; afinal, a verdade é pessoal e resultado da experiência e dos gostos individuais.
Ainda segundo Lipovetsky, o “self-interest” é a única lei assumida e o dever passou a ser escrito em letras minúsculas. O “é necessário” cedeu seu passo à felicidade, ao estímulo dos sentidos e o proibido somente vale quando está no corpo da lei escrita. Ao mesmo tempo ele chama a atenção: não nos enganemos: os gritos pelo retorno da ética não passam de um grito, mas não significam uma renúncia a si próprio ou o desejo de obrigações em favor dos outros. Esta é a sociedade do “pós-dever”, na qual os direitos subjetivos dominam os mandamentos imperativos. Ele afirma: “Queremos o respeito da ética sem mutilação de nós mesmos e sem obrigações difíceis: o espírito da responsabilidade, não o dever incondicional. Por trás das liturgias do dever demiúrgico, chegamos ao minimalismo ético”.
Esse desajuste ético e consequente reajuste dos valores é necessário e é consequência da nova antropologia. Os velhos mitos e tabus não têm mais efeito sobre a nova mentalidade. São estórias de crianças assustadas em noites de tempestade! O protagonismo humano tende a estabelecer um novo ordenamento moral.
Observe-se, no entanto, que também o inverso pode se fazer sentir, especialmente naquelas culturas e setores nos quais a nova mentalidade não encontra aceitação: trata-se da tendência a um fechamento completo e aberta oposição aos novos valores, chegando, às vezes, a um retorno aos velhos e tradicionais estilos de vida.
A moral cristã, a partir da sua compreensão e valores, estabelece alguns desajustes neste esquema moral do homem moderno:
a) moral sem pecado: o generalizar-se do estilo de vida que despreza o sentido da culpa e do pecado;
b) moral de situação: a implantação do relativismo que estabelece as circunstâncias, a subjetividade e a privatização como caminho de realização moral;
c) moral neutra: total dissociação entre religião e ética que esvazia tanto a moral quanto a própria fé;
d) moral pragmática e utilitarista: estabelecimento de valores somente a partir de uma necessidade prática e em vista da própria utilidade;
e) moral hedonista: a tendência a identificar o valor ético a partir do prazer e satisfação que produz.
O “boom” religioso pós-moderno
O retorno ao sagrado, ao esotérico, ao demoníaco e o culto ao mal são fenômenos da pós-modernidade. Formas religiosas e crendices consideradas ultrapassadas e infantis retornaram com novas forças e novos ares. Pelas avenidas, bairros, nas cidades e mesmo em pequenas cidades do interior, se vêem símbolos, ritos, imagens, pessoas e igrejas de credos diferentes. Há situações, algumas engraçadas e outras conflitivas, nas quais numa mesma família se encontram vários credos e tendências religiosas. Em pouco tempo é possível ver diversos templos e formas religiosas, tanto in locoquanto via satélite.
Muitas pessoas estão totalmente mergulhados na fé, organizam a vida a partir dela e não abrem mão da participação ativa. São xiitas, ortodoxos, crentes e se reconhecem pertencentes ao mundo dos já salvos e com a missão de salvar os “perdidos”, os “infelizes”; outros são totalmente indiferentes a uma única instituição religiosa, dando preferência às soluções rápidas e preenchimento de um vazio de sentido. Muitos simplesmente se limitam a afirmar crer numa “energia universal”, no “ser superior”, mas que é tão distante quanto eles próprios o são dele. Ao lado disso tudo, cresce o número daqueles que se denominam “sem religião”, o que não significa que sejam ateus.
Este fenômeno não se restringe a uma camada social. São ricos e pobres, doentes e sãos, professores universitários e serventes de pedreiro. Todos professam sua crença e a manifestam na medida de suas necessidades. Empresários participam de culto evangélico, militares participando de missa, populares fazendo oferta à Iemanjá, motoqueiros carregando a imagem de N. Sra. Aparecida. Chegamos ao tempo em que a religião é de alguma tribo: surfistas, eskaitistas, homossexuais, empresários liberais, etc.
Será que Deus venceu a batalha? Será que o Deus morto dos filósofos passados acordou e resolveu retomar seus poderes e as rédeas da história?
Na verdade, o que existe é a formação do “coquetel religioso”. O homem pós-moderno vive a religião “à la carte”, de tipo “selfservice”, numa mistura de vários aspectos que mais interessam e satisfazem as exigências e necessidades momentâneas. Na busca do sentido da vida, cria-se o deus e a religião pessoal, conforme se observa no título do livro do teólogo cristão Walter Kasper: “Jesus Cristo sim, Igreja não”. O “boom” religioso revela isto: seitas, cultos, esoterismos, filosofias orientais, yoga, etc., num verdadeiro “misticismo difuso e eclético”, onde se vive a preferência religiosa e o “suave consumismo religioso”. A razão disso se encontra também no fato de o sagrado ter-se libertado do domínio da religião, isso é, qualquer pessoa pode atribuir-se o título de “bispo”, missionário e oferecer o serviço religioso como qualquer serviço de teleentrega rápida e soluções milagrosas.
O homem moderno não serve a Deus, mas se faz servir dele. Culto e Igreja, na medida do necessário e “quando sobra um tempinho”, afinal, tudo o que é demais, faz mal. A fidelidade a uma única Igreja e a uma única visão de Deus são prejudiciais, pois, segundo o homem moderno, há outras facetas e aspectos que devem ser privilegiados e que uma única religião não completa. Assim, da missa de domingo se passa para o centro espírita de terça-feira, para a leitura e meditação da palavra de Deus no culto evangélico de quarta à noite, para a terreiro de umbanda de sexta-feira e para a fazenda budista de sábado.
O resultado disto é o que se vê: ofertas religiosas as mais variadas possíveis. Igrejas, academias, farmácias e motéis é o que mais se vê nas ruas. São as instituições que mais proliferam e, no fundo, cada uma responde na medida exata ao que o homem moderno busca. O comércio religioso, em muitos casos, assume as mesmas características de qualquer oferta de produto, em nada diferente da venda de celulares, eletrodomésticos, carros, programas eróticos, etc. São ofertas religiosas em anúncios de jornais, rádios, outdoors, panfletos em esquinas movimentadas, liquidação de bênçãos e oração de cura pela metade do preço. O missionário que faz milagres, o “professor” que lê o futuro, a “irmã” que dá conselhos, o padre que faz showmissa, o mestre que faz curso de meditação.
Em tudo aparece a fuga do vazio, do anonimato e da vida sem sentido. O importante não é o que se crê e nem a medida desta crença, mas como forma de identificação com alguns outros e de autonomia, como demonstração da autonomia pessoal que se demonstra até mesmo na capacidade de comandar o próprio Deus.
Pistas de ação
1 – É preciso lutar e vencer a vida light. Ela conduz a uma existência vazia. É preciso recuperar o sentido autêntico do amor à verdade e a paixão pela liberdade autêntica.
2 – Ocupar bem o tempo livre, não se resumindo a revistas de fofocas e a televisão. “O homem moderno em geral ocupa proficuamente esse lazer, porque se confronta com o seu próprio isolamento dentro da sociedade em que vive. Tende a associar o nada que fazer com o fracasso e até mesmo com o pecado”, ou, como diria Bauman, usando de duas metáforas, é preciso deixar de ser “vagabundo”, ou seja, de quem simplesmente vagueia e de turista, como mero espectador das coisas. Encontrar alegria na realização de um trabalho não-econômico e no tempo livre.
3 – Retornar a um humanismo coerente, comprometido com os valores. Não se deixar invadir por tantos esquemas publicitários e informativos, além de buscar um sentido transcendente, a edificação de uma cultura digna que propicie um crescimento interior.
4 – Buscar a informação sem renunciar à formação. Aprender a fazer o seu planejamento pessoal, ter uma filosofia de vida. Cada um deve descobrir a sua “razão vital” (Ortega y Gasset). Saber usar a informática, a telemática, mas não ser dependente dela.
5 – É preciso uma educação sentimental (Gustave Flaubert). O homem moderno se converte no espectador de seus próprios rios emocionais interiores, impulsionado por dois motores: o prazer sem restrições e a ausência de proibições.
6 – Sem um “norte moral” a luta pela liberdade cai no vazio. O liberalismo só leva a pessoa a arruinar sua vida e a sociedade, a tornarse escrava de suas paixões ou do traficante da esquina. A saída está na transição da imanência à transcendência, deixar o individualismo e o materialismo. Ter valores sólidos. Estar aberto aos valores dos outros. Visar o bem dos outros.
7 – Ser comprometido com o futuro. Reconhecer o direito das futuras gerações e empreender esforços na preservação desses direitos.
8 – Cultivar a solidão, como espaço de encontro consigo mesmo. Nem tudo deve ser dito ou exteriorizado. É preciso aprender a conviver consigo mesmo. Solidão aprazível (Gastón de Mezerville). Saber cultivar a intimidade, sem renunciar ao social. Não viver na exterioridade. Valorizar a sua família.
9 – Aprender a administrar o conhecimento. Com tantos diplomados, tantas faculdades e universidades, o mais importante é trabalhar o saber, partilhá-lo com a equipe, aprender a somar. Hoje todos podem ser educadores, mas somente quem sabe compartilhá-lo com o diferente alcança a integralidade e a sabedoria.
10 – Escapar dos falsos absolutos, da idolatria do sexo, do dinheiro, do poder ou do sucesso, porque são meios, nunca podem ser fins. Conforme J. Libanio, é preciso uma “pedagogia do prazer”.
11 – Recuperar a festa sem renunciar ao compromisso. Fazer festa sem esquecer de lutar pelo aperfeiçoamento das instituições e a realidade social.
12 – Reconciliar-se com o corpo sem perder o espírito. Eliminar o dualismo corpo-alma, mas também lutar contra o culto ao corpo e a banalização da sexualidade própria da pós-modernidade. Quando o homem elimina o espírito, se perde a pessoa, e quando a relação sexual não é linguagem de amor resulta profundamente triste.
13 – Aceitar o lucro sem renunciar a gratidão. Hoje tudo está voltado para o lucro e se atrofiou a gratidão. É importante perceber que o homem não é somente “homo faber”. Também não se trata de eliminar todo esforço. É preciso educar para a felicidade que se dá também por meio do jogo e do tempo livre. Temos que ensinar as pessoas a serem felizes e buscar a sua realização também por meio do tempo livre. O homem não se realiza somente no trabalho, pelo que faz. Eliminar a obsessão do lucro e do rendimento.
14 – Educar para o diálogo como alternativa à intolerância e ao relativismo. Diante do relativismo empobrecedor de tipo “tudo vale”, precisamos de educadores persuadidos da verdade de suas convicções e desejosos de transmiti-las a seus alunos, porém também convencidos daquele princípio fundamental de que a verdade não se impõe de outra maneira do que pela força da mesma verdade. Do mesmo modo, o diálogo neutraliza todos os tipos de intolerância e as relações virtuais. É necessário conectar-se aos outros, sem escolher contatos e muito menos criar relações imaginativas.
15 – Ensinar a viver o permanente em meio ao passageiro. Os jovens de hoje devem ser ajudados a dar-se conta de que estão falsificando o verdadeiro sentido de liberdade. A verdade não é aquela que vai de acordo com a direção do vento.
16 – Buscar a fé verdadeira e autêntica. Através da experiência religiosa, do encontro com o Transcendente. Aceitar também os limites da experiência religiosa. Celebrar a fé de forma alegre.
17 – Construir laços. A solidariedade, os projetos sociais, as ONGs, são convite e forma de realização pessoal. Levam a descobrir o outro e a vida que vale a pena ser vivida e que a verdadeira felicidade não reside no bem econômico.
Conclusão
Este mundo e mentalidade “pós-moderna” será superado. As rachaduras, as fendas, os pontos frágeis e vulneráveis serão responsáveis por sua derrocada. Poder-se-ia dizer que a própria mentalidade criará um novo tecido, uma nova pele “anticultural”, que dará uma nova roupagem à realidade e a autocompreensão humana.
Afinal, o mundo pós-moderno se demonstra extremamente frágil, quebradiço, sem consistência, sem encanto e apresenta “rachaduras no espelho”. Ele instaura o reinado da fragilidade, da superficialidade, da trivialidade, ou, no dizer de Zygmunt Bauman, da “liquidez”. “Resta a ver se o tempo da pós-modernidade passará para a história como crepúsculo ou como renascimento da moralidade”.
Demonstra ser carente de interesse, repleto de frivolidade, alimentado por meios de comunicação massificantes e alienantes, da informação sem formação, conseqüência de uma sociedade que cria um coquetel de experiências e sentimentos, consumo frenético de coisas e matérias, de verdades passageiras e sem fundamento, carente de futuro e de certezas, sociedade louca por desejos, adrenalina pura, prazer, dor e morte.
A implantação de uma nova cultura, composta de uma nova linguagem, de uma nova simbologia, de arte, de novos paradigmas, de um novo estilo de vida, de uma nova axiologia marcada pelo controle da vida pessoal e coletivo, implantará um novo “ethos” pós-moderno. Ao indicar algumas pistas de ação, compreendo que nenhuma mudança se dará sem a assunção de novos valores e novas atitudes.
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Referências
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